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LÚCIA MARIA LUTA PARA MANTER VIVA A CULTURA PAIACU

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

LÚCIA MARIA TAVARES


A remanescente dos Índios Tapuias Paiacus, Lúcia Maria Tavares, também conhecida como Lúcia Cará(ou Lucinha) nasceu na cidade de Apodi/RN, no dia 18 de janeiro de 1961. Com 54 anos de idade, ela é dona de casa e trabalha como costureira, e reside na Rua Antonio Lopes Filho. Lúcia Tavares é pesquisadora, fundadora e Presidente do CentroHistórico-Cultural Tapuias Paiacus da Lagoa do Apodi(CHCTPLA), entidade não governamental que tem por objetivo resgatar a história indígena constitutiva da cidade de Apodi. 

Lucinha foi escolhida para ser entrevistada por ser a pessoa que mais se encaixa na questão do preconceito com os indígenas, uma guerreira que já foi e continua sendo criticada pelas pessoas, apenas por reivindicar o reconhecimento e os direitos do povo Tapuia Paiacu. A pesquisadora falou acerca do preconceito que sofreu por ser indígena, durante o período em que estava na cidade de São Paulo/SP, “Certa vez uma amiga minha, pegou uma revista da Veja, que continha imagens de crianças indígenas e disse que eles não eram gente, índio lá é gente. Mas ela não sabia que eu sou indígena, pois eu sempre fazia tudo calada. Eu senti um grande ódio dela. Não lhe disse nada com palavras, mas no silêncio fiquei dizendo coisas. Depois de algum tempo, foi que ela ficou sabendo que eu era indígena. Mas, não tenho remorso disso, as pessoas tem que respeitar os outros, pois ninguém é melhor do que ninguém. Além dessa situação aconteceram outras, mas essa foi uma das situações que lembro até hoje”. Lúcia falou que esse fato marcou sua vida, mas que mesmo assim não liga muito para isso e continua sempre em frente, enfrentando problemas e dificuldades de cabeça erguida. “O preconceito é coisa de gente ignorante”, disse ela. Ela falou ainda que o preconceito existe pela falta de informação das pessoas, e que para que esse tipo de preconceito não aconteça novamente com ela ou com outra pessoa, a nossa sociedade deve buscar pela educação, para que possa aprender a respeitar os grupos étnicos, pois assim a discriminação poderá ser desconstruída. 

Lúcia conta com satisfação sobre como vem desenvolvendo o seu trabalho e enfrentando suas dificuldades: “O Centro Histórico foi criado para contar a verdadeira história dos índios do Apodi, do Rio Grande do Norte e do Nordeste Brasileiro. Eu saio por aí, atrás de peças indígenas para colocar no meu acervo, mas infelizmente ainda sou muito criticada, muita gente diz que o que eu faço é pura bobagem, mas eu não ligo”. A indígena está desenvolvendo um projeto que objetiva construir uma comunidade dos Tapuias Paiacus no Bico Torto, bairro do município de Apodi; nesse local também será construído o Museu Luíza Cantofa, onde irá conter peças indígenas. O Centro tem buscado dialogar com o poder público municipal, e com o grupo de empresários da localidade para discutir sobre esse projeto. Porém, infelizmente pouca coisa foi conseguida até agora, e de acordo com a atual conjuntura irá demorar muito, já que nessa cidade, poucos valorizam sua história. 

Pelos relatos da indígena, percebe-se que o preconceito no Brasil, ainda é uma grande barreira em nossa sociedade que perdura desde a colonização. A discriminação de grupos indígenas vem de séculos e séculos de história, algumas conquistas já foram alcançadas, mas muita coisa ainda precisa ser feita por esses povos que querem apenas o direito de possuir a sua terra e desenvolver sua família. Esse tema deveria ser tratado com mais atenção pelas autoridades desse país, como também em escolas, a fim de incentivar, educar e buscar meios para que a discriminação não aconteça. 

Por Francisco Veríssimo de Sousa Neto, estudante do IFRN - Campus Apodi 

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